Nos dias 11 e 12 de abril, a Bahia foi o palco do 2º Fórum Universalizar, um evento de grande relevância para o setor de saneamento no Brasil. Com o tema principal “100 anos em 10: estratégias de investimentos para universalização do saneamento”, o fórum reuniu especialistas de renome, tanto nacionais quanto internacionais, para discutir e debater os desafios e inovações necessários para transformar o cenário do saneamento no país.
No primeiro dia do evento, os participantes tiveram a oportunidade de ouvir especialistas internacionais que compartilharam suas experiências sobre diversos temas ligados à universalização do saneamento. Esses profissionais trouxeram uma perspectiva global, apresentando casos de sucesso e desafios enfrentados em diferentes partes do mundo, enriquecendo o debate com insights valiosos e inspiradores.
Desafios de Investimentos em Infraestrutura no contexto do ESG
Um dos destaques do 2º Fórum Universalizar foi a Palestra Magna com o tema “Desafios de Investimentos em Infraestrutura no contexto do ESG”, ministrada por Julius Sen, professor associado da University College London (UCL) e da London School of Economics and Political Science (LSE). A palestra de Julius Sen abordou os desafios enfrentados na infraestrutura de água e saneamento, com exemplos concretos do Brasil e da Índia, destacando a importância crucial da equidade e sustentabilidade nesse setor.
Julius Sen enfatizou que a consistência política e o comprometimento de longo prazo são elementos essenciais para atrair investidores e promover o desenvolvimento sustentável. Ele citou a China como um exemplo de sucesso nesse aspecto, ressaltando que a continuidade e a estabilidade das políticas públicas são fundamentais para criar um ambiente favorável aos investimentos. Essa abordagem permite que os investidores tenham confiança no retorno de seus aportes, incentivando a alocação de recursos em projetos de infraestrutura de saneamento.
Além disso, Sen abordou as possíveis restrições comerciais internacionais que podem surgir devido à falta de qualidade nos serviços de água e saneamento. Ele alertou que a precariedade desses serviços pode levar a sanções e barreiras comerciais, afetando negativamente a economia de um país. A qualidade e a sustentabilidade dos serviços de água e saneamento são, portanto, não apenas uma questão de saúde pública e bem-estar social, mas também um fator crítico para a competitividade econômica no cenário global.
A palestra de Julius Sen destacou, ainda, a importância de garantir que os serviços de água e saneamento sejam sustentáveis e de alta qualidade para evitar restrições comerciais e impactos negativos. A adoção de práticas ESG (Ambiental, Social e Governança) na infraestrutura de saneamento é fundamental para assegurar que esses serviços atendam aos padrões internacionais, promovendo a sustentabilidade ambiental, a equidade social e uma governança eficaz.
Julius Sen, professor associado da University College London (UCL) e da London School of Economics and Political Science (LSE) abordou os desafios de diferentes países para obtenção de investimentos em saneamento
Experiências Internacionais para alavancar investimentos
Uma das palestras mais aguardadas foi ministrada por Amar Qureshi, co-CEO e cofundador da Agilia Infraestrutura Partners. Com a participação de Daniel Keller, da Una Partners, e moderação de Neuri Freitas, presidente da Aesbe, Qureshi compartilhou valiosos insights sobre estratégias internacionais para impulsionar investimentos no setor de saneamento.
Amar Qureshi destacou o cenário do Reino Unido, onde a indústria da água passou por um processo de privatização desde 1989. Nesse modelo, empresas privadas assumiram a responsabilidade pelo tratamento e fornecimento de água, resultando em investimentos significativos na infraestrutura. Qureshi apontou que, apesar dos avanços, desafios como a poluição dos rios ainda persistem, evidenciando a necessidade contínua de investimentos e melhorias nos serviços.
Além do exemplo britânico, Qureshi abordou a importância crucial da gestão de riscos e do custo de capital em projetos de infraestrutura. Ele destacou que a identificação e a mitigação de riscos são fundamentais para garantir a viabilidade e a sustentabilidade financeira dos projetos de saneamento. Através de uma gestão eficiente de riscos, é possível atrair investidores, que buscam segurança e previsibilidade em seus aportes.
Outro ponto importante levantado por Qureshi foi a necessidade de arranjos eficientes para atrair investimentos e reduzir tarifas. Ele argumentou que, para tornar os projetos de saneamento atraentes para os investidores, é vital criar estruturas de financiamento que reduzam o custo do capital. Isso pode ser alcançado através de parcerias público-privadas (PPPs) bem elaboradas, onde os riscos e benefícios são compartilhados de maneira justa entre os setores público e privado.
Qureshi também ressaltou que a experiência internacional demonstra a importância de um ambiente regulatório estável e transparente para atrair investimentos. Políticas claras e consistentes, juntamente com uma governança eficaz, são elementos-chave para criar confiança entre os investidores e garantir o sucesso a longo prazo dos projetos de infraestrutura de saneamento.
A palestra de Amar Qureshi, enriquecida pelos comentários de Daniel Keller e pela moderação de Neuri Freitas, proporcionou uma visão abrangente das melhores práticas e estratégias internacionais para alavancar investimentos no setor de saneamento. As lições aprendidas e os exemplos compartilhados reforçam a importância de uma abordagem integrada e estratégica para superar os desafios e promover o desenvolvimento sustentável do saneamento no Brasil.
Amar Qureshi trouxe o cenário do Reino Unido e trouxe estratégias para alavancar investimentos
PPPs de Saneamento – Experiências e Práticas
Outro tema de destaque no 2º Fórum Universalizar foi abordado na palestra de Maria Salvetti, da Universidade de Florença, que compartilhou suas experiências em Parcerias Público-Privadas (PPPs) no setor de saneamento. Com a participação de Carlos Nascimento, coordenador geral do MBA PPP e Concessões da FESPSP, e moderação de Marcus Vinicius Fernandes Neves, presidente da Cagepa, a palestra proporcionou uma análise detalhada sobre a regulação econômica e financeira desses contratos.
Maria Salvetti destacou a importância das PPPs como uma solução eficaz para os desafios de financiamento e gestão no setor de saneamento. Ela enfatizou que a regulação econômica e financeira dos contratos é crucial para garantir o sucesso dessas parcerias. As metodologias de revisão de tarifas e a remuneração dos operadores devem ser bem estruturadas para equilibrar custos, eficiência e qualidade de serviço. Salvetti argumentou que uma regulação adequada assegura que os operadores privados sejam compensados de forma justa enquanto se mantém a acessibilidade e a qualidade dos serviços para a população.
Além disso, a palestrante abordou os motivos que podem levar à interrupção precoce de contratos de PPPs, destacando problemas econômicos, contratuais e de preparação inadequada. Ela apontou que a falta de um planejamento rigoroso e de uma avaliação inicial robusta pode resultar em dificuldades financeiras e operacionais que comprometem a viabilidade do projeto. Salvetti ressaltou a importância da fase de monitoramento e avaliação contínua ao longo da execução do contrato. Um acompanhamento rigoroso permite identificar e corrigir problemas antes que se tornem insolúveis, garantindo a sustentabilidade e o sucesso a longo prazo das parcerias.
Maria Salvetti também compartilhou exemplos práticos de PPPs bem-sucedidas e discutiu as lições aprendidas com esses casos. Ela sublinhou que a transparência e a comunicação constante entre as partes envolvidas são essenciais para construir confiança e colaboração. A governança eficaz e a clareza nos papéis e responsabilidades de cada parceiro são fundamentais para evitar conflitos e assegurar a entrega de serviços de alta qualidade.
A participação de Carlos Nascimento e a moderação de Marcus Vinicius Fernandes Neves enriqueceram a discussão com perspectivas adicionais sobre a aplicação das PPPs no Brasil. Nascimento destacou a necessidade de capacitação e desenvolvimento de competências específicas para a gestão de contratos de PPPs, enquanto Neves enfatizou o papel das agências reguladoras em garantir a conformidade e a eficiência dos projetos.
Maria Salvetti destacou a importância das PPPs como uma solução eficaz para os desafios de financiamento e gestão no setor de saneamento
ESG e Infraestrutura – Abordagem Sustentável
Por fim, no último painel do dia, o tema foi ESG e Infraestrutura e trouxe uma discussão enriquecedora sobre a integração de critérios ESG (Ambiental, Social e Governança) nos projetos de infraestrutura. O painel foi conduzido por Michael Walls, do Department of Planning Unit da UCL, e Karisa Ribeiro, coordenadora de PPPs do Cone Sul do BID Invest, com moderação de Rafael Castilho da FESPSP e participação de Olga Pontes.
Michael Walls iniciou o painel abordando a origem e evolução do conceito de ESG. Ele explicou que o ESG começou como uma métrica para avaliar o desempenho das empresas do ponto de vista dos investidores, mas ao longo do tempo, expandiu-se para orientar políticas e decisões também no setor público. Essa evolução reflete a crescente importância de considerar aspectos ambientais, sociais e de governança em todas as esferas de planejamento e execução de projetos de infraestrutura.
Walls destacou a importância da abordagem ESG para enfrentar desafios ambientais e sociais. Ele ressaltou que a medição de emissões, o uso eficiente de recursos e a gestão de impactos ambientais são componentes cruciais, sendo o aspecto ambiental o mais desafiador de todos. A implementação de práticas sustentáveis exige não apenas a medição precisa desses indicadores, mas também ações concretas para mitigação e adaptação.
A medição e gestão de indicadores de Sustentabilidade Corporativa foram enfatizadas por Walls como essenciais para lidar com questões ambientais, sociais e de governança. Ele argumentou que a consistência na aplicação de critérios ESG é fundamental para promover uma infraestrutura sustentável. Além disso, a priorização pública e a persuasão regulatória são necessárias para garantir que os projetos não apenas atendam aos padrões ESG, mas também tragam benefícios reais e duradouros para a sociedade.
O Fórum foi um verdadeiro catalisador para novas ideias e parcerias, inspirando todos os participantes a continuar trabalhando juntos para transformar o setor de saneamento no Brasil e alcançar um futuro mais saudável e sustentável.
Cada discussão destacou a importância de estratégias integradas e sustentáveis para alcançar a universalização do saneamento. As experiências compartilhadas reforçaram a necessidade de políticas consistentes, compromisso de longo prazo, gestão eficiente de riscos e capital, além da aplicação de práticas de governança ambiental e social robustas. O evento evidenciou que, com a colaboração entre setores público e privado e a adoção de abordagens inovadoras e sustentáveis, é possível acelerar o progresso e garantir serviços de saneamento de alta qualidade para todos.
Confira o primeiro dia do 2o Fórum Universalizar na íntegra! Para saber mais mais palestras e eventos relacionados com o setor de saneamento, acompanhe nossas redes e site!