Nos últimos anos, o saneamento básico no Brasil tem enfrentado uma profunda transformação. Com a promulgação do novo Marco Legal do Saneamento (Lei nº 14.026/2020), o país deu um passo decisivo rumo à universalização do acesso à água potável e ao esgotamento sanitário — uma meta ambiciosa, que prevê cobertura de 99% e 90% da população, respectivamente, até o ano de 2033.
Para viabilizar esse salto, o setor público não pode caminhar sozinho. É aí que entram as Parcerias Público-Privadas (PPPs), mecanismos fundamentais para viabilizar investimentos robustos, atrair a expertise da iniciativa privada e garantir a entrega de serviços mais eficientes, modernos e sustentáveis.
Neste contexto, o MBA Saneamento da FESPSP tem formado profissionais que estão na linha de frente dessas transformações, contribuindo ativamente para o amadurecimento dos projetos de PPP em diversos estados brasileiros. Para ilustrar esse cenário, nesta primeira parte do nosso especial sobre PPPs no Saneamento, trazemos a experiência da engenheira Marisa Capriglioni, ex-aluna do curso e Especialista em Inovação e Novos Negóciosda Companhia de Saneamento do Paraná – Sanepar.

Marisa Capriglioni, ex-aluna do MBA Saneamento foi destaque no evento Raio-X das PPPs de Saneamento compartilhando sua experiência no painel “Performance e aprendizados da primeira geração de contratos de PPPs de Saneamento no Brasil”
PPPs no saneamento: por que são tão importantes?
As PPPs representam uma resposta concreta à limitação histórica dos investimentos públicos no setor de infraestrutura. No caso do saneamento, essas parcerias viabilizam a entrada de capital privado para a operação, manutenção e expansão dos serviços, o que acelera a entrega de resultados e melhora a qualidade do atendimento à população.
Além da Lei nº 11.079/2004, que criou o marco regulatório das PPPs no Brasil, a atualização da legislação por meio do novo Marco Legal do Saneamento intensificou ainda mais a adoção desse modelo, prevendo mecanismos que favorecem a contratação de parcerias e concessões com foco em resultados e metas concretas. Em estados como Paraná, Pernambuco e Alagoas, por exemplo, essas estratégias já estão em plena execução e demonstram potencial para transformar a realidade do saneamento no país.
Contudo, tão importante quanto o instrumento jurídico-financeiro, é a qualificação dos profissionais que atuam na formulação e condução dessas parcerias. É neste ponto que entra a relevância de programas como o MBA Saneamento, que não apenas capacitam gestores para os desafios técnicos e regulatórios do setor, mas também proporcionam trocas ricas com outros profissionais — uma rede que tem feito a diferença na construção de soluções inovadoras.
A experiência de quem está na linha de frente: o caso da Sanepar
A engenheira Marisa Capriglioni tem uma trajetória sólida dentro da Sanepar, com passagens por áreas de operação, manutenção, obras e gerenciamento de projetos. Com a chegada do novo marco regulatório, ela e sua equipe se viram diante de uma necessidade urgente: modelar um projeto de PPP que fosse capaz de atender às novas metas legais dentro do prazo estipulado.
“No formato tradicional, em que se elabora o projeto, monta-se a concepção, detalha-se orçamento, contrata-se mão de obra… não daria tempo de cumprir as metas. Era preciso pensar diferente, modelar diferente”, explica.
A Sanepar optou então por contratar uma consultoria especializada para apoiar a estruturação da parceria. Mas, à medida que o projeto avançava, ficou claro que não bastava apenas contratar especialistas externos. Era fundamental aprofundar o conhecimento internamente para entender de fato a lógica da PPP — um contrato de longo prazo, com metas de desempenho e responsabilidades compartilhadas.
“Percebemos que, se tivéssemos o mesmo olhar de um contrato de obra, estaríamos fadados ao erro. Precisávamos entender mais. Foi aí que decidimos fazer o MBA e estudar mais profundamente esse modelo.”

Formação e networking: elementos-chave para o sucesso
Ao ingressar no MBA Saneamento, Marisa destaca dois elementos fundamentais que ajudaram sua equipe a aprimorar o projeto: as discussões acadêmicas e o networking com outros profissionais.
As aulas proporcionaram não apenas o embasamento técnico, mas também uma visão mais crítica sobre aspectos como regulação, estruturação de contratos, garantias e indicadores de desempenho. Ao mesmo tempo, o contato com colegas de diferentes setores — como órgãos de controle e empresas privadas — ajudou a ampliar o repertório e trazer novas perspectivas.
“A troca com outros alunos foi muito rica. Havia pessoas dos tribunais de contas, por exemplo, que nos ajudavam a entender por que certas exigências eram feitas. Isso mudou nossa postura completamente.”
A partir dessas interações, Marisa e sua equipe começaram a ajustar a modelagem da PPP da Sanepar, incorporando aprendizados e soluções propostas em sala de aula. E mais: utilizaram os conceitos do curso para desenvolver uma estratégia de comunicação interna e externa eficaz, que evitasse ruídos e equívocos comuns nesse tipo de projeto.
“Criamos canais de diálogo com os gestores e com as equipes, para explicar o que era a PPP. Mostramos que não se tratava de uma privatização. Também mantivemos contato próximo com os tribunais de contas, apresentamos o projeto antes do envio formal. Isso tudo surgiu como insight do MBA.”
Inovação, resistência e transformação
A experiência da Sanepar não foi isenta de desafios. O projeto enfrentou resistência de setores do judiciário e passou por questionamentos que chegaram até o Supremo Tribunal Federal (STF). Mas, ao final, a empresa saiu vitoriosa, abrindo espaço para um novo modelo de atuação no saneamento, mais diverso e competitivo.
“O setor vivia sob uma lógica de monopólio. O que quisemos com esse projeto foi mostrar que era possível fazer diferente, trazer mais empresas para o jogo. Foi uma inovação difícil, mas necessária.”
Marisa acredita que o mercado de saneamento ainda está em processo de amadurecimento. Os contratos de PPP, por sua natureza de longo prazo, exigem ajustes, aprendizados contínuos e aperfeiçoamentos constantes — algo que só se conquista com qualificação técnica e visão estratégica.
“Não podemos achar que o modelo é ruim porque surgem problemas. Esses contratos têm duração de 30 anos. É natural que questões apareçam. Cabe a nós, como poder concedente, entender como melhorar e evoluir com o tempo.”
O papel da formação no fortalecimento do setor
A trajetória de Marisa ilustra com clareza a importância da capacitação profissional para a transformação do saneamento básico no Brasil. Projetos de PPP bem-sucedidos exigem mais do que boas intenções: demandam conhecimento técnico, capacidade de articulação, sensibilidade política e, sobretudo, disposição para inovar.
O MBA Saneamento tem como missão justamente preparar profissionais para esses desafios. Ao reunir especialistas de diversas áreas e fomentar o debate sobre temas centrais do setor, o curso se torna um espaço privilegiado para a construção de soluções sustentáveis e inclusivas.
Na próxima parte deste especial, vamos conhecer outras experiências de alunos e alunas que estão atuando em diferentes frentes das PPPs no saneamento, mostrando como o conhecimento adquirido no MBA tem impactado projetos em todo o país.
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